Remix Ferreira Gullar

30-09-2016 15:58

Texto em prosa remixando versos de Ferreira Gullar. Em negrito, os versos do peota estudado.

 

Dispersão e disperdício

 

A leitura de mais um livro terminou !.....Que pena !......... A  estória  deste belissimo  romance de aventuras, fantasmas e conquistas me fascinou e me  transportou longos  anos de volta  na minha própria trajetória e sem querer eu sinto que   estou disperso nas coisas, nas pessoas, nas  gavetas:  de repente encontro ali partes de mim:

A dispersão me leva de volta aos tempos de ginásio, quando eu pedalava minha bicicleta 7 km para chegar na escola  e um pouco menos para voltar para casa. Na ida eu atravessava, no centro da cidade,  um belo parque público à pé, empurrando a magrela, porque era proibido andar de bike;  mas na volta, para chegar mais depressa em casa, pois a fome já marcava presença,  eu encurtava   bastante o caminho , atravessando um grande cemitério, pedalando minha bike. Local propício para brincadeiras de mau gosto. Assim me assustei   muitas e muitas vezes, tremendo feito vara verde, com gritos imitando vozes do além e outras insinuações de possiveis "gasparzinhos camaradas". Compartilhei estes medos com colegas até que eu entendi que  manifestações "não-terrestes"  nunca acontecem de dia e portanto eram os rapazes da escola  brincando com assuntos do outro mundo.  Não dei mais atenção à estes "Fantasmas do Meio-Dia". Decepção para os fajutos fantasminhas,  mas tranquilidade para mim.

Lembro de meu pai, sempre tão austero e exigente  comigo,  lembro que ele escreveu um versinho para mim no meu caderno de versos, confecçionado por mim em 1948-1950? Onde será que eu guardei?   Deve estar em alguma gaveta !........

Abro uma gaveta  e outra à procura   do verso  manuescrito  por papai e encontro tambem  um bilhetinho amoroso  de meu marido que ele escreveu para mim no hospital , enquanto eu ainda dormia  anestesiada. Fotos do meu filho ainda bebê, depois maiorzinho brincando com o cachorro.

Quantas lembranças me levam de volta ao passado,  e eu entendo que de repente encontro ali partes de mim   tambem.

Mas chega de nostalgia,  o presente  pede minha atenção para a vida atual !  Tenho obrigações diárias a cumprir.

Tenho minha casa para zelar, as plantas no jardim aguardam minha atenção   e principalmente tenho que cuidar muito bem de mim.

As vezes, durante um passeio pelas lojas, torna-se dificil  comprar sómente o necessário,  a vontade de adquirir alguns objetos atrativos, lindamente expostos  nas vitrines,  mas que certamente não serão usados,  se faz presente. Porem evitar o desperdício, posso aprender com a   própria vida, pois que a vida só consome o que a alimenta. 

E, tentando seguir o bom exemplo,  imito  o  que  a  vida  nos  ensina  e, sendo assim,  me contento apenas em admirar  o que acho bonito.